25/10/2017

Aleksandr Dugin - Qual é o Sentido da Vida?

por Aleksandr Dugin



O sentido da vida está em superar os seus limites.

Eu penso que vida é dinâmica. A vida exige de todos que estão em sua esfera de influência a superação dos seus limites. Realidade como presença é uma realidade morta, ou como imobilidade, é o domínio da morte. Realidade enquanto tarefa é o domínio da vida. É por isso que eu penso que o significado da vida está em superar todas as barreiras, em todas as direções. Há apenas uma coisa, e isso é um truísmo, toda criatura minúscula, até mesmo uma molécula, pode superar algo. A questão é, a superação em todas as direções, no modelo de uma esfera (a verdadeira superação), e há a superação unidimensional, uma trajetória mais geral, mais popular, mas a superação está em todo lugar. Eu penso que só a superação esférica e ininterrupta é a verdadeira.


O que se deve fazer estando em desespero absoluto?

Deve-se continuar vivendo. O desespero deve ser o modo de existência predominante. Porque nós fomos lançados aqui e abandonados. Sem a experiência de desespero total, ao ignorar a absurdidade onipresente, sem encarar o abismo escancarado que somos capazes de enxergar graças à nossa finitude, uma miríade de emoções será desconsiderada. O desespero é uma “sine qua non”, uma constante existencial de um autêntico Dasein. Aqueles que não experienciaram o desespero, a solidão, a tragédia, estes não podem ser chamados de “humanos” e devem ser ignorados. Eles são Untermenschen.

O que é revolução total?

O significado etimológico de “revolução” é (o latim “revolutio”) rotação. A rotação do sol em primeiro lugar. E assim como o sol não pode fazer outra coisa senão descer e ascender, do momento da meia noite para o momento do amanhecer (esse é o aspecto mais misterioso e enigmático do ser), a vida humana, a vida em geral, o sujeito, o espírito, não podem parar de realizar essa rotação. Eu penso, que em um determinado momento, os ciclos revolucionários, ciclos de diferentes rotações, as rotações de criaturas, sociedades, rotações cósmicas, elas serão ressonantes.  Isto é, uma revolução total, um momento único na história. Os gnósticos o chamaram de “o momento da realização de todas as realizações”. É um instante ressonante em todos os ciclos, uma simultaneidade nas linhas de todos os ciclos. Quando a era está acabada e uma nova está próxima. Isso é uma revolução total. Ou um fim dos tempos.

Problemas individuais são problemas do universo para um revolucionário?

Sem dúvida. Existe uma analogia direta entre o macrocosmo e o microcosmo, entre o homem e o ambiente, eles estão interconectados. Um revolucionário é um homem que percebe o mundo moderno de maneira muito mais perspicaz, penetrante. Diferente do homem médio, cuja percepção é obtusa. Nesse sentido eu penso que um revolucionário O humano. Um não-revolucionário é... perturbador. O homem percebe uma ligação entre o ser e ele mesmo, diferente de um quase-homem.

A liberdade existe? O que você pensa sobre isso?

Não há dúvidas, a liberdade existe. E além disso, ela é essencial. Ela constituiu o Homem. E o ser. Ela é a base de todas as teologias monoteístas, que tiveram até mesmo uma imensa influência na nossa, vamos dizer, cultura ateísta. A liberdade, na verdade, é a principal dimensão do ser. E do ser humano. Mas veja, essa tese encontra um número de antíteses e é refutada por muitas, não uitas, mas por todo o fluxo da realidade. A busca pela verdadeira liberdade é um salto, a refutação de uma verdade objetiva, de uma realidade cinzenta, e é o motor supremo, o prêmio supremo para uma vida autêntica, uma existência autêntica. Eu penso que a liberdade não está no exterior, está no interior. Não há uma força que possa conceder ao homem liberdade, ele deve lutar por ela. É um imperativo ético da vida realizar essa liberdade, asseverá-la. Eu afirmo uma total e absoluta liberdade, o que é chamado de “o objetivo da Moksha” no hinduísmo. A realidade, na sua qualidade imanente, é uma espécie de campo de concentração, um universo de concentração. Ela força todas as criaturas a estarem na sua esfera de influência, a se sentirem sem liberdade e a se definirem como sem liberdade. E o imperativo de toda criatura espiritual é uma luta e uma rebelião permanente contra esse sistema de concentração da realidade. E no sentido social também. Mas esse é um dos aspectos. O homem deve rebelar-se contra toda a falta de liberdade em todas as camadas e domínios do campo de concentração: no nível da dominação da carne, a dominação da inércia, a dominação do sono, a dominação do fluxo da consciência. E inclusive o que as doutrinas sociais chamam de “O Sistema”. Eu me refiro aos devotos da entropia, que tentam impingir barreiras. As criaturas e aspectos da realidade que negam, rejeitam, proíbem a liberdade, nós precisamos enfrentá-los. Uma luta permanente e impassível. Aniquilação. Essa é a dignidade do Homem. A dignidade de toda criatura espiritual.

Qual é o sentido da sua vida?

Bem, ele coincide com aquele de todos os homens. A máxima realização possível de liberdade, a completude da rebelião, a arte última da superação. Do que pode ser superado e do que não pode. “O homem é algo que deve ser superado”, como colocou Nietzsche. O significado da minha vida reside em superar. Eu mesmo, em primeiro lugar. E o que pode ser superado. E o que não pode.