13/03/2017

Eduard Limonov - Os Desajustados: Uma Minoria Ativa

por Eduard Limonov



O PCFR, o PCTR, os já quase inexistentes apoiadores de Anpilov e as bem minúsculas organizações "comunistas" ortodoxas e até o "terrorista" Gubkin e a UJCR (do Bilevsky) ainda consideram o "proletariado", "o povo trabalhador", como eles dizem, como uma classe revolucionária. Eles olham para o "marxismo-leninismo" como os judeus para as Tábuas da Aliança trazida a eles por Moisés. Os "comunistas" estão errados. Por alguma razão eles supõem que os pobres são necessariamente violentos. Nos tempos de Marx o proletariado estava, de fato, em terríveis condições, ele de fato trabalhava 12 horas por dia. Sim, ele vivia em alojamentos gélidos e úmidos. Assim, emocionalmente ele estava em situação extrema, pronto a qualquer momento para o protesto e explosão histéricos. Sua vida era tão ruim que mesmo uma câmara de tortura não era tão terrível para eles em comparação com uma fábrica. Em certo sentido, eles realmente não tinham nada a perder a não ser seus grilhões. Eles eram os mais inveterados, após os prisioneiros talvez. É neste sentido que eles eram revolucionários. Isto é, em caso de desordens organizadas por terceiros era possível esperar a participação desses inveterados trabalhadores fabris. Por causa de sua vida dura eles podiam ficar facilmente exaltados e facilmente cair em pânico ou ser acometidos por emoções revoltosas.

Porém, mesmo já meio século após a publicação do "Manifesto Comunista", por volta de 1900, os trabalhadores, até na Rússia, já não viviam de forma tão desesperadora. Eles simplesmente viviam de forma consistentemente ruim. Quanto à organização da revolução, ou sua preparação, então o proletariado correspondiam na forte coorte de narodovoltzi (membros da Vontade Popular) e socialistas-revolucionários de Lênin não mais, mesmo até menos que outras classes. Perovskaia, Kibalchich, Grinevitsky, Alexandr Ulianov, como é sabido, não eram trabalhadores. De forma totalmente acidental, me deparei na biblioteca do castelo Lefortovo com uma pesquisa bastante instrutiva de R.A. Gorodnitsky "A Organização de Combate do Partido Socialista Revolucionário em 1901-1911". E ali eu descobri dados raros e incríveis sobre a origem dos combatentes socialistas revolucionários.

A Organização de Combate em 1903-1906 compreendia 13 mulheres e 51 homens. A origem estamental dos membros da OC era como segue: 13 nobres, 3 cidadãos honorários, 5 filhos de padre, 10 filhos de comerciante, 27 pessoas de classe média e 6 camponeses. A administração da OC era formada por 2 indivíduos de origem nobre, 3 filhos de comerciante e 2 pessoas de classe média.

O nível educacional da OC para o período estudado: 6 membros tinham educação superior, 28 tinham superior incompleto, 24 tinham educação média, 6 educação primária. Os números, conclui Gorodnitsky, revelam o ambiente principal do qual os membros da OC eram recrutados, a comunidade estudantil de instituições de ensino superior. Interessante, também, é a composição nacional da OC: 43 russos, 19 judeus e 2 poloneses. Por idade: "São precisamente os jovens de 20 a 30 anos que compunham o esqueleto da OC" avalia Gorodnitsky.

Não se pode descartar essas deprimentes estatísticas para o proletariado com a afirmação de que, bem, os socialistas revolucionários eram um partido que colocavam como sua principal tarefa a distribuição de terra para os camponeses e que eles, portanto, não tinham proletários. Gorodnitsky especialmente especifica que a Organização de Combate dos socialistas revolucionários diferia radicalmente do partido socialista revolucionário e, em essência, era uma organização diferente, a Organização de Combate da própria Revolução Russa. "Para muitos membros da OC de 1903-1906 os cânones ideológicos estritos do PSR eram estreitos demais e sua presença e trabalho na OC era tomada por eles como serviço à revolução russa como um todo, após cuja vitória, como esperavam os combatentes, se deveria produzir uma reconstrução radical da sociedade sobre bases socialistas".

Então é isso. A vanguarda da revolução russa: 13 nobres, 27 plebeus pequeno-burgueses, uma horda de estudantes incompletos e nem um único proletário. Mas talvez nos anos seguintes nessa mesma eficiente organização revolucionária russa (os bolcheviques, em comparação, à essa época ainda estavam em suas fraldas) proletários teriam ingressado e camponeses dominado?

Eis os dados sobre a OC em 1907-1909. 7 homens e 3 mulheres (a época da exposição de Azef, a organização passava por tempos difíceis). A origem estamental: 6 plebeus, 2 filhos de comercientes, 1 filho de padre, 1 camponês. Nível educacional: 3 membros da OC com educação superior, 3 com superior incompleta, 4 com ensino médio.

Em 1909-1911 a OC compreendia 13 homens e 4 mulheres. A origem estamental dos membros da OC: 6 nobres, 1 cidadão honorário, 3 filhos de comerciantes, 1 filho de padre, 5 plebeus e 1 camponês. A composição nacional: 11 russos, 3 judeus, 1 ucraniano, 1 letão e 1 polonês. O nível educacional: 2 pessoas tinham educação superior, 8 superior incompleta, 5 média, 2 primária.

Novamente. Nem um único proletário!

Indubitavelmente proletários marcharam com Gapon até o czar em 9 de janeiro, durante o levante revolucionário de 1905, mesmo todo o distrito operário "Presnya Vermelho" se distinguiu mas estes são casos de "tumultos organizados por terceiros".

Deixemos o proletariado. Vamos olhar mais de perto para a identidade de quem abalava o Império Russo no início do século e preparava a revolução. É o estudante de uma instituição de ensino superior, russo (1 em cada 4 é judeu), com entre 20 e 30 anos, originalmente da classe média, ou seja, da pequena burguesia. Vamos olhar para os líderes da OC. O fundador da Organização de Combate Gregory Andreevich Gershuni (Gersh) nasceu em 1870 na província de Kovensk. A família foi registrada no estamento médio. Em 1885 ele foi enviado para estudar farmacêutica. Em 1887-1888 ele trabalha em uma farmácia em Kronschtadt. Ele se muda para Petersburgo. Ele trabalha como farmacêutico até 1895. Em Petersburgo ele trava amizade com eruditos, artistas, estudantes. Ele escreve o pequeno conto "Como ser" onde se descreve o assassinato de um membro de um círculo revolucionário suspeito de provocação. Em 1895 Gershuni foi para Kiev e ingressou como ouvinte nos cursos da faculdade de medicina da Universidade de São Vladimir. Em março de 1896 ele é preso, ele é acusado de participar em uma associação antigoverno "O Conselho Aliado das Organizações Estudantis e Afiliações Rurais de Kiev". Ele só levou um susto. Tendo sido aprovado nos exames para se tornar farmacêutico ele se mudou de novo para Petersburgo. Depois, ele veio para Moscou, trabalhou em cursos de bacteriologia, então no instituto de medicina experimental. Na primavera de 1898 ele vai a Minsk, começa a oferecer serviços a grupos revolucionários, organiza uma oficina de máquinas para tipografias ilegais, cria um departamento de passaportes, envia pessoas ilegais através da fronteira, etc. Finalmente, ele se une ao círculo "Partido dos Trabalhadores para a Liberação Política da Rússia" em 1899. Em 1990 ele é preso. Acidentalmente libertado. Passa a uma posição ilegal. No verão de 1901 ele viaja por Nizhni Novgorod, Ufa, Voronezh, Saratov e Samara estabelecendo contatos. Em setembro de 1901 ele começa a recrutar pessoas para a Organização de Combate. O primeiro ato terrorista acontece em 2 de abril de 1902. O assassinato do Ministro do Interior Sipyagin em Petersburgo.

Boris Victorivich Savinkov (foi precisamente seu "Memórias de um Terrorista" que trouxe à OC sua fama histórica) nasceu em 1879 em Kharkov na família do promotor público da corte do distrito militar. Savinkov completou o ginário em Varsóvia em 1897. Em dezembro do mesmo ano, aos 18 anos de idade, a administração da gendarmaria de Varsóvia o convocou para prestar contas de sua participação em tumultos estudantis ligados à abertura em Varsóvia de um monumento ao supressor do levante polonês de 1863-1864 o conte M. N. Muraviev. Savinkov é posto sob vigilância policial. Em 1897 Savinkov ingressa na faculdade de Direito da Universidade de Petersburgo. Mas já em 1899 ele foi expulso da universidade por causa de tumultos estudantis e de uma investigação preliminar sobre o caso de um grupo de estudantes que haviam se reunido em um "comitê organizacional". Por volta do fim de 1899 Savinkov atravessou a fronteira e durante dois anos ele estudou nas faculdades jurídicas das universidades de Berlim e Heidelberg. Em outono de 1900 Savinkov veio a Varshava para a execução de seu dever militar, mas foi declarado "completamente incapaz para serviço militar". Savinkov se aproxima dos social-democratas, entra para o grupo "Estandarte Proletário" e junto com P. M. Rutenberg funda o grupo "Socialista". Em 1901, na primavera, Savinkov é preso por causa da participação em organizações social-democratas. Em dezembro de 1901 a investigação é finalizada. No início de 1902 Savinkov é exilado para Vologda. Na primavera de 1903 Savinkov se une ao PSR. Em junho do mesmo ano ele escapa de Vologda para Archangelsk, e de lá para a Noruega, depois para Genebra onde ele se encontra com um membro do Comitê Central do PSR, Gotz. Ele tem 24 anos de idade e já é um revolucionário profissional.

Dos ataques que tornaram a OC famosa três são proeminentes: o assassinato por Stepan Balmashov do ministro Sipyagin, o assassinato por Egor Sozonov em 15 de julho de 1904 de V. K. Pleve e o assassinato por Ivan Kalyaev em 4 de fevereiro de 1905 do Grão-Duque Sergei Alexandrovich. Kalyaev foi executado em 10 de maio do mesmo ano. Há muito material sobre ele nas "Memórias" de Savenko, tanto quanto sobre Egor Sozonov. De todos os herois da OC Kalyaev, um poeta e revolucionário inspirado, era um tipo acabado do mais fanático aderente a meios descompromissados de luta. Ao longo de toda sua vida ele desafiou não só o regime político existente na rússia como também foi uma revolta contra as bases injustas do próprio mundo.

Stepan Balmashov nasceu em 1881 em uma família de nobres hereditários da província de Archangelsk. Ao mesmo tempo seu pai já era um antigo populista revolucionário. Em 1899 ele ingressa na Universidade de Kazan de onde ele é transferido para Kiev, para a faculdade de direito. Por participar em uma reunião estudantil Balmashov foi expulso da universidade e obrigado a prestar serviço militar por 1 ano. O 23 de janeiro de 1901 tendo chegado (ele ainda não havia sido enviado ao exército) no prédio da Universidade de Kiev, Stephan trouxe consigo alguns canos de vidro cheios de um líquido fedorento os quais ele pisou em uma sala da universidade com o objetivo de paralisar as aulas. Ele foi preso e manuscritos proibidos foram encontrados com ele, bem como notas e mensagens trocadas com conhecidos. Em 10 de abril de 1901 Balmashov foi liberado para formar guarda sob a vigilância das autoridades militares na cidade de Roslavl na província de Smolens. Logo após ele pegou uma licença de 6 meses e foi a Simferopol, então em 30 de julho de 1901 para Kharkov, mas mesmo ali ele não ficou, foi para Kiev onde ficou até dezembro de 1901, quando ele foi então para Saratov. Nessa cidade, Balmashov tinha conexões com os socialistas revolucionários. (O encontro de Balmashov com Gershuni aconteceu em 1901 em Kiev). Os SR de Saratov deram a Balmashov os meios de cometer um ato terrorista.

Em 2 de abril de 1902 no prédio do Comitê de Ministros veio Balmashov, disfarçado com um uniforme de adjunto e tendo aguardado a chegada de Sipyagin disparou vários tiros contra ele. Sipyagin morreu após 1 hora e meia. Depois dos tiros, Balmashov gritou: "Isso é o que deve ser feito a essa gente". No dia seguinte era aniversário de Balmashov, ele tinha agora 21 anos de idade. Em 3 de maio, às 4 horas da manhã, Balmashov foi enforcado no jardim da fortaleza Shlisserburg. Stepan recusou a confissão e a eucaristia e ao ver o padre disse: "Não quero ter que lidar com hipócritas".

Este é o tipo de pessoa, fanática, irrequieta, que hoje seria chamada de desajustada, que foi a matéria-prima da organização mais revolucionária do início do século na Rússia. E de todas as organizações revolucionárias em essência, não só na Rússia. Precisamente em constante frenesi, incansáveis, mudando de local de estudo, serviço, trabalho, residência e até de estilo de vida. Essas são todas características primárias de desajustados. Também eram desajustados os Grandes Líderes de futuros movimentos políticos poderosos que eclodiriam por toda Europa. Antes de se tornar cabo e depois chanceler da Alemanha, Adolf Hitler vagabundeou em Viena por 7 anos, vivendo em abrigos, desenhando paisagens vienenses, perambulava com sobretudo até o calcanhar como Lautreamont (Hitler, aliás, parece um pouco com Edgar Allan Poe, alguém além de mim já notou?), dividiu abrigo com um mendigo que vendia seus desenhos. Tudo isso costuma ser omitido em biografias, mas é precisamente a juventude, os anos que formam uma pessoa, que é importante. Lá, em Viena, na sombra de magníficas catedrais, entre museus esplêndidos, próximo a mansões burguesas imensamente luxuosas, como ele deve ter sofrido, o desconhecido andarilho Adolf! E como ele deve ter começado a odiar Viena como, depois, como chanceler em 1938 ele deve ter exultado em adentrar na cidade outrora hostil acompanhado pelas ovações de milhões de pessoas. O jovem Stálin também era um desajustado, basta olhar para sua foto jovem, com uma pequena barba, em uma leve echarpe presa a uma pequena jaqueta. Benito Mussolini, um socialista barulhento da pequena aldeia de Predappio vagabundeou na rica Suíça, passou noites sob pontes, foi preso pela polícia, trabalhou como pedreiro, trabalhou em fábrica de latas, vagou, fitou, invejou, odiou. Depois ele afirmou que se encontrou com Lênin em Zurique e Genebra. Mussolini era um italiano falador... Todos eles liam avidamente, escreviam, estudavam pouco a pouco, vagabundeavam, escreviam poesia e procuraram por um longo tempo por algo que fazer. Vladimir Lênin não foi mendigo, mas ele também não foi o assistente jurídico mais comportado, irmão de um executado por uma tentativa má sucedida de regicídio, revolucionário profissional quase desde os 17 anos de idade, aos 27 já um exilado, aos 30 um migrante, um esquisitão estranho e cruel. Quando eclodiu na Rússia a Revolução de Fevereiro ele queria sobrevoar os campos militares da Europa em um balão! Ou viajar de trem com os documentos de um sueco surdo-mudo! Vejam que tipo! Nas humilhações, na pobreza, no sofrimento os líderes dos Grandes Partidos experimentaram iluminações: iluminações sobre suas missões.

E os irmãos-de-armas dos líderes dos Grandes Partidos da Europa! Ao se redor se reuniram poetas, jornalistas provincianos, escritores (randomicamente: Goebbels, Trotsky, Marinetti, Lunacharsky), mulheres esquisitas (as primeiras a vir: Inessa Armand, Angelica Balabanoff, Kollontai, Leni Riefenstahl, Larisa Reisner), militares estranhos (Ludendorff, Ernst Röhm, o conde Ciano, Tukhachevsky, Frunze), psicopatas, incontáveis tipos extravagantes de meio-criminosos meio-revolucionários (aleatoriamente: Kotovsky, Dzerjinsky, Horst Wessel).

Lênin provavelmente viu com clareza este paradoxo: a primeira revolução proletária foi organizada e posta em prática não pelos proletários, mas por pessoas desajustadas, histéricas, vagabundos, demagogos, oradores, pessoas semi-educadas, mendigos e todo tipo de figuras exóticas. Depois, os marinheiros e os camponeses e os operários ousaram chegar ao que já havia acontecido, sim. Porém, eles não foram os primeiros no negócio revolucionário, eles não são seus pais, eles se juntaram depois.

E aqui um equívoco é cometido. O próprio Lênin tem culpa aqui porque ninguém a não ser ele poderia ter feito isso. Como pai fundador, ele deveria ter deixado tábuas onde ele deveria ter indicado com clareza segundo que critérios dever-se-ia selecionar os diamantes entre as montanhas de estrume. Como os budistas tem critérios especiais para a seleção do Dalai-Lama e do Panchen-Lama. Ele deveria ter dito: "No futuro, para propósito de serviço público procurem por talentos entre os desajustados, entre os esquisitos, pessoas histéricas e poéticas, entre os lunáticos, mas não entre os trabalhadores ou alguns camponeses, a não ser que você se depare com algum exemplar realmente excepcional. Deus nos livre, camaradas sucessores, de procurar entre as classes estáveis da população".

Mas Lênin não deixou qualquer instrução do tipo. A insolência e honestidade de declarar que somente um partido constituído por desajustados, poetas, profetas e psicopatas é capaz de realizar uma revolução faltou a Lênin. A magia da justiça absoluta da revolução em nome da maioria o forçou a preservar e apoiar a mentira ideológica: uma revolução proletária, do Quarto Estado, em prol da maioria (dos trabalhadores). (Da mesma maneira, os fascistas na Alemanha disseram ter feito sua revolução de 1933 em nome do Volk, o povo, os fascistas italianos fizeram a sua em nome da nação italiana). Mas eles apenas tinham que admitir que a maioria (proletariado, volk, nação) é desprovida de talentos e não é capaz de conquistar ou defender seus interesses. Depois, essa mentira ideológica teve consequências desastrosas, ela refletiu catastroficamente na qualidade das fileiras partidárias que veio a substituir as primeiras fileiras heroicas de desajustados. A mentira oficial sobre o caráter especialmente revolucionário dos proletários (após eles, os mais revolucionários eram considerados os camponeses e em terceiro lugar os soldados, vai saber o porquê) foi gravada em letras vermelhas brilhantes no legado do partido comunista dos bolcheviques.

Os líderes foram selecionados e promovidos entre eles, os operários e camponeses por origem foram encorajados.

Eles não estavam interessados ou se esqueceram das origens estamentais da Organização de Combate dos Socialistas Revolucionários ou do pessoal do Comitê Central. O partido acreditava que o proletariado era a coroa da criação, quando ele era tão somente um pretexto para a tomada do poder pelos melhores: os desajustados, os psicóticos, os marginais. Aonde isso levou é de conhecimento comum: um completo ninguém veio do campo, o pequeno filho diretor de um kolkhoz, o imbecil Misha Gorbachev e então o imbecil de Sverdlovsk Boris Iéltsin, e o Estado criado pelo gênio de loucos, sádicos, poetas, açougueiros, o extraordinário Estado desabou. É isso que quer dizer uma política errada de recrutamento.

Dever-se-ia ter rastreado nas oficinas da boemia, nas prisões, nos hospícios, por indivíduos estranhos, isso que deveria ter sido feito. Homens possuídos, criadores de poesia, homens que falam dormindo em línguas desconhecidas. Dever-se-ia ter levado nos anos 70 ao Comitê Central Vladimir Bukovski, Natan Sharansky, Eduard Kuznetsov e Volodia Gershuni! (Eu conheci o neto do terrorista em 1968-1970. Nós até vivemos por um tempo sob o mesmo telhado. Metade da vida de Volodia foi passada em prisões e hospícios. Independentemente das divergências ideológicas eu o respeitava. Com Savinkov estamos ligados por Kharkov, local de seu nascimento e eu passei ali minha infância e juventude). Mas pegar essas pessoas delinquentes, mas vigorosas, aqueles que os teriam levado ao Comitê Central deveriam ter sido gênios eles próprios! É um paradoxo, mas para salvar uma elite e um Estado que envelheciam cada vez mais rápido eram necessários aqueles que os atacavam mais furiosamente...

Olhando para nossas organizações regionais do PNB podemos ver com grande satisfação que elas são comandadas por jornalistas provincianos, poetas, roqueiros, punks, estudantes semi-educados. Há também alguns trabalhadores, eles são pessoas incríveis, mas eles são apenas trabalhadores acidentais, temporários (e já se tornaram revolucionários profissionais), maseles são as ovelhas negras de sua classe e como exceção só confirmam a regra geral. É por isso que o PNB não está envolvido com massas, não tenta transformar trabalhadores em zumbis (não podemos igualar a habilidade dos impérios televisivos de propagandizar e manipular pessoas). Porém, o PNB conduz uma propaganda seletiva, reconhecendo e organizando a minoria ativa, os desajustados. Nos anos 60 e 70 os esquerdistas também se voltaram para o proletariado, eles ficaram perto das entradas de fábricas inundando os trabalhadores com panfletos, mas após se olharem no espelho, após se compararem com os proletários e após refletirem sobre quem eles eram eles propuseram a teoria de que a classe mais revolucionária era a dos estudantes. Nós, o PNB, apesar de entre os membros do partido haver estudantes, não achamos que os estudantes sejam uma classe revolucionária especial. Até hoje, os pupilos de classes escolares avançadas os superam e os deixam para trás em revolucionismo. Mas mesmo isso não é uma verdade, em última instância. As classes revolucionárias inexistem. Um caráter revolucionário é, ou não é. Assim o tipo mais revolucionário de indivíduo é o desajustado: uma pessoa estranha, desorganizada, vivendo à margem da sociedade, um pervertido talentoso, um fanático, um psicopata, um tipo azarado. Não se deve achar que há muito poucos desses para formar um partido revolucionário. Há centenas de milhares de pessoas marginais, ou até milhões. Este é todo um grupo social. Uma parte dos desajustados preenche as fileiras do mundo criminoso. Os melhores precisam estar  conosco.